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misinterpretation: a weapon

Ao fim de janeiro, a jornalista Rachel Sheherazade, em resposta ao delegado que criticou mulheres em seu Twitter, fez a seguinte declaração:

“(…) No entanto, seu comentário foi realista: revela o despreparo e a falta de vocação de algumas mulheres (e homens também!) para a “profissão perigo” que é ser policial.
O fato é que homens e mulheres não são iguais. Nunca serão!
E qualquer tentativa de homogeneização entre sexos é burra, contraproducente. Nossos cérebros distintos e corpos diferentes se complementam, portanto, não há motivo para travar uma guerra dos sexos.
Mas, se ainda assim, as mulheres insistem em se igualar aos homens devem começar abdicar da conveniente redoma que as protege das missões mais duras e das críticas mais espinhosas.”

Essa manifestação pública de Rachel foi vista como um às nas argumentações de machistas, homofóbicos, reaças e misóginos em muitos veículos midiáticos, como o Facebook e Twitter – se usam deste excerto pra apontar os dedos e dizer “estão vendo?! ela é mulher e disse isso”. Porém, o que eles não sabem ou insistem em ignorar é que o feminismo não é sobre isso.

O movimento feminista não tem como inspiração ou objetivo transformar mulheres em homens. Não queremos que cresçam pênis em nossas pelves, que se extinguam nossas mamas, que se afunilem nossos quadris e se alarguem nossas costas – o nome disso é transsexualidade, que se resume em um transtorno de identidade de gênero e é outro assunto.

O feminismo consiste num movimento filosófico, político e social, cujo intuito é garantir direitos iguais e promover o humanismo desprovido de toda e qualquer norma de gênero, bem como as opressões originárias dos mesmos.
Surgiu pela necessidade de combater e acabar com a violência e abuso contra mulheres; de garantir à elas a integridade e autoridade sobre seu corpo; de conferir o direito à sua autonomia e seus direitos legais – que vão de votar à direitos de propriedade -; pelos direitos reprodutivos – cuidados pré-natais, contracepção e aborto -; direitos trabalhistas – de salários iguais à licença maternidade -; e cessar todos os outros tipos de discriminação que ela enfrenta.[1]
É uma luta para que a dominância sobre as mulheres acabe e que um gênero não sofra opressão em detrimento a outro – que as mulheres não sejam esmagadas pelo patriarcado, do qual alguns homens também são vítimas.

O resultado do feminismo vem desde o início do movimento e se estende até hoje. Houve muitas conquistas e, a exemplo, a jornalista Rachel só pode dar sua opinião e exercer sua profissão na emissora em que trabalha graças ao movimento feminista. Só pôde votar graças a ele e, visto que tem dois filhos, só pôde se dedicar aos primeiros meses dos mesmos em virtude do direito à licença maternidade – e se não o fez, ao menos tinha a escolha.

E não para por aí. O feminismo não abrange só as mulheres, mas sim todos os que são oprimidos mediante preconceito e que são vítimas de desigualdade, como todos os homo e transsexuais, os negros e os pobres. O feminismo busca estender o direito à igualdade para todos, não só para aqueles que são homens, brancos e héteros – e/ou  ricos. Lembrando, é claro, que ninguém quer exterminar os homens, mas sim reforçar e fazer valer os direitos humanos de forma universal.

A homogeneização que a jornalista interpreta como sendo de gênero é, na verdade, de direitos e o engano está aí. O preconceito contra o movimento feminista gira em torno dessa má interpretação. É evidente que, anatomicamente, homens e mulheres jamais serão iguais. Também é possível que suas percepções do mundo sejam diferentes, às vezes – se um homem nunca menstruou, ele jamais poderá ver isso como uma mulher vê. Analogamente, as visões de um homossexual são diferentes do homem e da mulher héteros. E é claro que homens e mulheres se completam. Todas as pessoas, não importa o gênero, classe, orientação sexual, identidade de gênero, etnia e crença se complementam, pois todos fazem parte de uma mesma espécie e compõem a humanidade na busca para compreender a existência e o universo.

A jornalista concorda em parte com o policial, pois interpretou a declaração do último como  reveladora do despreparo de homens e mulheres para a profissão. Sim, pode ser.

Sendo assim, a crítica deveria ser feita aos maus praticantes do ofício em geral, não em relação ao fato de ser mulher. É disso que o feminismo se trata. Queremos que o caráter, a prática e o comportamento de todos os indivíduos sejam avaliados de acordo com suas ações, não com seu gênero, orientação, identidade de gênero, etnia, crença e etc.

falsa oratória

oratória 

s. f.
1. Arte da eloqüência.

2. Peça dramática cujo protagonista é um santo do calendário.

Antes de mais nada, afirmo que esse texto será longo e massante. É um texto de caráter teórico e analítico. Eu planejei fazer uma publicação diferente da que se segue, com outro assunto, mas me pareceu mais necessário publicar a seguinte reflexão antes.
O texto abaixo se trata de uma análise minuciosa de alguns detalhes e exemplos encontrados no discurso de Malafaia. Peço que leiam até o fim.

“(…) safado, sem vergonha, bandido, caluniador (…)”
Esse é o inicio do discurso de Malafaia em entrevista à Marília Gabriela, introduzindo sua contra-argumentação em relação à recente declaração da Forbes sobre seus bens. A princípio, o ouvinte pode pensar que o locutor se refere ao autor da matéria, mas logo se pode notar que o intuito é outro. Me é bastante interessante esse tipo de introdução, uma vez que ela incumbe já a princípio, que o a ética do jornalista em questão é de caráter duvidoso. No entanto, não posso afirmar que seja essa a intenção de Malafaia. Apenas estou pontuando aqui algo que me intrigou.
Achei muito interessante, também, a atitude do pastor em levar alguns papeis à mesa a fim de refutar as afirmações em relação a seu patrimônio. Não me prova nada, uma vez que esses papéis podem simplesmente estar vazios ou conter uma receita de bolo. Mas, não me interessa, nesse momento, discutir a respeito desses pertences: cada coisa tem sua hora e, talvez, a verdade venha por si só.

Meu interesse hoje é destrinchar essa entrevista e verificar o tipo de discurso de Malafaia. Uso a mesma como exemplo por ser a mais recente, mas espero que as evidências sejam suficientes pra sustentar o meu ponto de vista.

O entrevistado segue discurso alegando que o “(…) ser humano é um ser inteligente, que raciocina (…)”. Obrigada, pastor, você acha mesmo? Agora que você reconheceu minha capacidade intelectual, estou muito mais propensa a te ouvir. Prossiga, sou toda ouvidos.
E, dando continuidade, o mesmo cede à entrevistadora a honra de sua aprovação, dizendo que está sendo honesto quando diz que ela tem credibilidade. Por isso, ele garante exclusividade à ela sobre as declarações seguintes. Muito gentil de sua parte.
Em seguida, o pastor argumenta sobre suas posses com seus imponentes papéis, alega que o responsável pela matéria é safado, que irá processar a Forbes, mas nos EUA, diz que não recebe salário de pastor, mas que se recebesse tudo bem, pois é bíblico, fala de seus livros, cds, dvds, etc, etc e etc.

Nesse trecho, pode parecer que o discurso está muito bem embasado com uma série de contra-argumentações e justificativas. Entretanto, isto aponta ser um clássico caso de red herring, que consiste em acrescentar ideias irrelevantes para desviar do assunto principal e conduzí-lo a outra conclusão: seu capital tem origem em ofertas e vendas e ele ficou “(…) nervoso com esse negócio (…)”.
O que isso nos diz? Nada. Por que a alegação da Forbes é mentirosa? Não foi esclarecido.
Acredito que muitos saibam sobre a lei do sigilo bancário, a qual é direito de todo cidadão. Mas não é possível que os responsáveis pela matéria tenham estimado os valores através de dados que são públicos, como número de igrejas pertencentes à “empresa dele”? Não li a matéria da Forbes, porém duvido muito que foi alegado que o pastor possua cerca de R$300mi em suas contas bancárias mas, sim, que estimaram ser esse o valor total de tudo sobre o que leva o nome do pastor: como as casas, as igrejas, o avião próprio, a soma de seu lucro dos livros, cds, dvds nos últimos anos e etc. Ou seja, foi avaliada – não comprovada e afirmada – sua fortuna, não sua renda. Não estou afirmando que seja essa a verdade e o meio de obtenção de dados da revista, apenas sugerindo o que parece mais plausível em minha cabeça.

A entrevista segue com Marília citando as fontes alegadas pela Forbes e Malafaia, apressadamente, dizendo: “(…) mentira, mentira, mentira (…)”. A isso se dá o nome de bulverismo, prática que consiste em argumentar já com a ideia de que o outro está errado. Nesse trecho, Malafaia imediatamente afirma que a entrevistadora está errada e já se torna indisposto a ouví-la. Além disso, se utiliza do conhecimento público da lei do sigilo bancário como único argumento possível contra as alegações e unilateraliza a discussão em seu favor, o que pode ser interpretado como egocentrismo ideológico. Existem outras possibilidades, como as citadas acima. Podem não ser verdadeiras, porém existem e devem ser levantadas antes de ser refutadas.
Este recurso pode direcionar o ouvinte a conclusões insatisfatórias e premeditadas.

Em seguida, Malafaia diz que o efeito de ser milionário é negativo a seu ver, pois, de acordo com ele, fortunas são associadas à roubo e corrupção. Além disso, diz que, se tivesse a fortuna, admitiria e é injusto que se alegue isso de si. Me parece um argumento ad misericordiam e o locutor se apresenta como uma vitima.

Nesse momento avanço um pouco na entrevista, pois na discussão sobre o dizimo se usa constantemente de deus como um argumento sobre a prosperidade pregada em religão e os motivos que levam os fiéis a praticarem o dízimo. Como Deus das lacunas é uma prática pseudo-argumentativa e me abstenho de discutir crença nesse momento, passo adiante sem muito a dizer.
Apenas irei chamar atenção ao fato de que neste trecho se utilizou de muito red herring, além de prova por verbosidade, onde o discurso se torna prolixo e cansativo, citando exemplo genéricos não comprovados de histórias de fiéis, e não chega a um tipo de conclusão.
Depois de tudo isso, o pastor cita probabilidade e estatística na discussão, de forma bastante pueril e duvidosa: de onde veio esse 30% de 1.000 – foi apenas uma situação hipotética proposta? E os “(…) um ou dois que reclamam”? Me pergunto de onde vem essas informações e quantas pesquisas o pastor conheceria a respeito, bem como quantas histórias conhece e reconhece. Além disso, ele afirma “(…) é assim que se faz pesquisa (…)” e dá o exemplo dos 30%/1.000: é uma explicação superficial e incompleta: não é explicado como, de fato, se realiza um censo.
Novamente, o entrevistado bolou uma série de justificativas e acabou não respondendo à pergunta implícita: o fiel pode ser induzido a contribuir monetariamente com a igreja, mesmo sem poder, esperando retribuição financeira? Isto é prejudicial ao indivíduo?
Essa questão é constantemente evitada e refutada, se utilizando várias vezes do discurso mal praticado.

Passando dessa questão, vamos chegar ao assunto que mais gerou polêmica durante o programa: homossexualidade.

Malafaia começa a palestra já defendendo que homossexualidade é uma questão de opção, não de genótipo e fenótipo. A partir daí, já usa de bulverismo e refuta qualquer outra hipótese, algo que se nota pelo tom elevado de voz e pela forma que impede a oponente de falar, bem como pela forma que nega as afirmações da mesma, sem mesmo as processar ou ouvir: apressa-se em dizer “(…) não deu nada (…)”, quando Marília fala sobre estudo e mapeamento do cérebro de héteros e homossexuais.

No intuito de sustentar o que diz, ele alega que “(…) ninguém nasce gay, não existe ordem cromossômica homossexual, não existe gen homossexual (…)”. Mas, em nenhum momento, citou um estudo referente ao mapeamento genético humano para comprovar.
Poucos segundos depois, anuncia que irá fazer uma “definição do homossexualismo”: “(…) um homem ou uma mulher por determinação genética e homossexual por preferência aprendida ou imposta (…)”. Essa alegação é um texto bastante recorrente na hipótese comportamental da homossexualidade e é decorada e disseminada por algumas doutrinas[1] [2] [3] [4]. Nesse caso, o pastor não faz uma definição, ele apenas ilustra uma opinião de caráter religioso. Não é um fato.  É um apelo ao preconceito. De acordo com o dicionário, definição é uma explicação clara e breve: a definição para a homossexualidade é “atração ou interesse pelo mesmo sexo”. Do ponto de vista da retórica, definição é a exposição dos diversos lados de um assunto o que, claramente, não foi feito pelo pastor.

Após, o entrevistado cita pesquisas: “(…) 46% dos homossexuais foram violentados, violados, quando crianças ou adolescentes (…) 54% escolheram ser (…)”. Daí, chamo a atenção para duas coisas:
1) Obviamente, que pesquisa é essa? Quem fez e onde foi publicada? Não se sabe: é, claramente, um apelo à autoridade anônima. Essa porcentagem é referente a quantos entrevistados – o mundo, um grupo de pessoas de um lugar específico? Essas são apenas algumas perguntas que ficam dessa afirmação que parece ser uma invenção de fatos;
2) Me soa bastante sem tato e até maldoso atribuir violência sexual como causa de homossexualidade: é reduzir o sofrimento de um indivíduo a uma explicação infundada que se utiliza pra sustentar um discurso de caráter duvidoso. Ademais, a coincidência de um homossexual ter sofrido abuso não pode ser tomada como a causa de sua orientação sexual. Afirmar isso seria um dicto simpliciter, onde não é comprovada uma relação de causa e efeito.
Além disso, ele conclui a frase em questão alegando que “(…) então, homossexualismo é comportamental (…)”. Aqui, não foi mostrada nenhuma prova e nenhum pensamento que induziu à essa conclusão e, no entanto, o locutor utiliza-se erradamente do termo “então” para fazer a ligação de uma coisa com a outra.

A discussão segue, de forma massante, com termos errôneos como “homozigótico” e mais invenção de fatos. Por exemplo, Malafaia afirma, em oposição à Marília, que “(…) os animais não são considerados homossexuais (…)” –  é fácil encontrar o erro quando se volta, ali em cima, à definição de homossexualidade e quando se pergunta: quem afirmou isso? Foi uma equipe renomada de pesquisadores, um linguista, um biólogo ou é apenas mais uma das opiniões de Malafaia?
Em um momento bastante interessante, o pastor afirma que a “ciência é observação” e que a  evolução é teoria pois “não se pode comprová-la na observação”.
Pois bem, a palavra ciência significa “conhecimento” e se refere ao ato de adquirir conhecimentos através do método científico do qual a observação faz parte e vem a ser a primeira etapa: a partir da observação de fósseis e das diferenças anatômicas presentes em seres vivos, foram formuladas várias hipóteses a respeito e explicações que as sustentassem, bem como identificação, correlação e ordem dos eventos. De acordo com o princípio da navalha de Occam, a que foi amplamente aceita foi a mais simples e universal. O termo teoria científica não significa simplesmente que não é comprovado ou incorreto em absoluto mas, sim, caracteriza e nomeia um grupo de hipóteses formuladas a partir de uma observação. Ou seja, teoria científica é o nome que se dá ao método científico em processo. Vale acrescentar, aqui, que esse método está sempre em andamento, pois as hipóteses precisam e podem ser testáveis e falseáveis.
Reduzir ciência apenas à observação e, apressadamente, refutar uma teoria por acreditar que não há observação que se valha é um apelo à ignorância.

Deixando essa e outras gafes do pastor, vamos analisar o que é dito por ele sobre as reivindicações do grupo LGBT: Malafaia cita trechos da PLC 122 e da constituição brasileira em seu favor – alega que o mal estar do homossexual perante suas atitudes é uma privação.
Para sustentar o alegado, Malafaia cita o Art 5º, inciso VIII da constituição: “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”.  Ainda que tendencioso e mal formulado, seria um ótimo argumento, porém o pastor não apresentou o textículo completo:

“(…) salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;”

Podemos interpretar da seguinte forma: todos tem o direito de ter uma crença ou uma convicção, mas os mesmos jamais poderão ser usados como meio de livrar-se de suas obrigações legais. É crime ofender, discriminar e repreender alguém por suas crenças. Quando Malafaia ridiculariza em público as convicções políticas da causa LGBT, ele está ofendendo um grupo inteiro. É um ato criminoso e sua motivação religiosa não o insenta disso. É o que a constituição diz, claramente. O pastor e os fiéis podem pensar o que quiser, mas não podem privar ninguém de seus direitos. O entrevistado, nessa passagem, está fazendo uma distorção de fatos através da omissão de informações.

O PLC – Projeto de Lei da Câmara, Nº 122 de 2006 não risca da constituição o direito à própria crença, mas é uma ementa que:

“Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, dá nova redação ao § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, e ao art. 5º da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e dá outras providências.”

O parágrafo da PLC 122 a que ele se refere, assim como todo o projeto, é apenas um adendo ao código penal brasileiro, porque infelizmente, para grande parte da sociedade brasileira ainda se faz necessário dizer que homossexuais também são cidadãos e que a constituição, o código penal e os direitos humanos também os abrange. Em momento nenhum o projeto afirma que religiões serão proibidas e seus líderes, derrubados. Ninguém disse que a preciosa e lucrativa religião de Malafaia seria proibida. O que o projeto visa é que as discriminações, os discursos de ódio, agressões morais e físicas cessem. É um equívoco apropriar-se da má interpretação da constituição para refutar a luta LGBT por igualdade.

Quando a entrevistadora levanta a questão da influência que o discurso de Malafaia tem sobre seus ouvintes, o último alega que “(…) então vamos cortar programas de televisão, vamos cortar novelas, vamos cortar filmes que tem ação porque vão influenciar alguém a matar…aí a sociedade para; então a televisão para agora, vai ficar só Marília Gabriela (…)” O entrevistado, claramente, reduz ao absurdo a hipótese levantada por Marília e, ainda, se utiliza de ataque pessoal por meio da ênfase empregada ao final da frase. A questão permaneceu sem resposta e o locutor induziu o espectador a uma conclusão reflexiva que, também, não conclui o assunto.
Ao ser questionado sobre os direitos dos homossexuais, Malafaia responde que “(…) eles tem [direitos]! Se eu tomar um tapa na cara, é igual um homossexual tomar um tapa na cara (…)”. Essa afirmação, pelo menos para mim, pareceu de caráter irônico e odioso – bem como seu amor pelos homossexuais, bandidos e assassinos. Além disso, foi mais um recurso para não dar procedência ao assunto.
Visto que utilizar motivos não comprovados, como existência de deus, não são argumentos, deixo a parte que se segue de lado.

Nesse momento a discussão cai no fato de Malafaia ser um psicólogo e é aqui que encerro sobre vídeo para argumentar a respeito de outra atitude de Malafaia, que é peculiar. O pastor sempre se arma do fato de ser formado em psicologia, tentando convencer por exaustão que ele é um profissional da saúde. Entretanto, me parece que muitas de suas atitudes se contrapõem à missão da profissão. Quando um indivíduo se gradua como psicólogo e recebe o capelo, ele está se submetendo ao seguinte juramento:

“Como psicólogo, eu me comprometo a colocar minha profissão a serviço da sociedade brasileira, pautando meu trabalho nos princípios da qualidade técnica e do rigor ético. Por meio do meu exercício profissional, contribuirei para o desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão na direção das demandas da sociedade, promovendo saúde e qualidade de vida de cada sujeito e de todos os cidadãos e instituições.”

As ações de discriminação e preconceito contra os homossexuais, bem como a falta de baseamento científico em suas alegações fere diretamente o juramento feito por ele, no que tange à “qualidade técnica e rigor ético”. Ainda, está fazendo um desserviço à sociedade brasileira e não contribuindo com o desenvolvimento da Psicologia, muito menos promovendo saúde e qualidade de vida à todo cidadão. Quando o pastor se proclama psicólogo e se vale disso para fazer suas declarações odiosas ele está quebrando um juramento. Isso não seria um crime? Fico me perguntando.

Por fim, em resposta ao vídeo do doutorando Eli Vieira, Malafaia faz ataque pessoal e o chama de “pseudo-doutor”, ainda que o biólogo não tenha se dado esse título. Em seguida, descaracteriza e refuta todas as referências muito bem embasadas do mesmo. Diz que “toda a argumentação que ele apresenta é apenas suposição científica, sem prova real, e tremendamente questionada pela própria genética”, valendo-se apenas de um estudo que ele diz ter lido e que tomou como verdade universal.
Eu deixo a pergunta: por que o único “estudo” em que Malafaia se baseia, mesmo também sendo teoria, é o único válido e verdadeiro, ao passo que são falsas as inúmeras pesquisas científicas feitas por pesquisadores sérios, de instituições reconhecidas mundialmente por mérito acadêmico? Parece tendencioso.

A oratória, como definida no início da publicação, é a prática de falar ao público de forma estruturada e é um objeto de estudo da retórica que consiste, literalmente, na arte do bem falar.
A habilidade de discursar é empregada e estudada, desde a Antiguidade, como elemento importante da vida política e é algo que se nota de lá até então: consulte a história da humanidade e constate que sempre diante de uma revolução, uma proclamação ou um golpe, um líder conduzia aos seguidores um discurso ou uma série de ideias. A exemplo:

Thomas Jefferson, Louis de Blanc, Voltaire, Locke, Diderot, Kant, Tiradentes, Deodoro da Fonseca, Getúlio Vargas, Guevara, Stalin e etc.

Mesmo que as circunstâncias, situações e meios sejam diferentes para cada nome citado, é comum a todos que, em algum momento, foi praticada a palestra: seja para justificar ou inspirar as situações em que se encontravam. Hoje, podemos ver isso nos discursos políticos, no horário eleitoral, em que os candidatos nos apresentam suas ideias. Partindo dessa breve constatação, afirmo que um discurso tem o poder de persuasão, inspiração e motivação, sim e eu gostaria de chamar a atenção para esse fato.

Finalmente, revelo que todos os termos em itálico e “hiperlinkados” ao longo do texto são exemplos de tipos de falácia.

falácia 

s. f.
1. Ação de enganar com má intenção.
2. Engano, logro.
3. Sofisma ou engano que se faz com razões falsas ou mal deduzidas.
4. [Informal]  O ruído de vozes de muitas pessoas que falam.
5. Falatório.

A falácia consiste em um argumento inválido e, geralmente, é um “truque” para se enganar ou se induzir a uma ideia. É importante lembrar que a ocorrência de uma falácia não invalida um discurso inteiro, apenas o argumento que se recorre a ela.
Eis aí o motivo que me levou a escrever esse texto: Malafaia é visto como um homem de poder, pois ele possui o “dom da palavra” (além de todo o seu dinheiro, seja lá qual for a quantia). Escrevi isso e levantei vários equívocos do mesmo para chamar a atenção ao fato de ele não ser um bom orador. O bom orador é aquele que traz informação, não o que engana e convence deliberadamente.
O pastor possui um discurso repleto de incoerências, informações falsas e/ou infundada, opiniões descartáveis enquanto argumento, agressões e uma série de características que invalidam sua palestra como verdadeira ou aceitável. Além disso, e esta é minha opinião, a tentativa de erradicar os homossexuais, por meio da alegação de que é um comportamento e é errado, bem como a intenção de privar e não conferir aos homossexuais direitos igualitários é um ato, além de criminoso, um tanto fascista. Essas peculiaridades podem ser vistas em outras manifestações públicas do pastor.

Não o ofenderei com a suástica, pois a redução ao hitlerismo é absurda, portanto falaciosa e seria errado alegar isso. Não acredito que seja o caso e nem que o pastor irá causar um holocausto, ainda porque não permitiríamos. Apenas digo que muitas atrocidades aconteceram graças a discursos convincentes e outras podem ser cometidas pela má interpretação dos mesmos. A violência contra os homossexuais é uma possível consequência disto.

Digo que, por mais que o pastor esteja convicto e veemente no que diz, muitas das coisas são inválidas. Digo que não se deve enganar pela postura de sinceridade e propriedade do mesmo e acreditar em suas falácias. Digo, em suma, que o reacionismo de Malafaia é perigoso e traiçoeiro para toda a sociedade e que ignorar isso seria se privar de nossos direitos.

Avalie e questione constantemente o que lhe é dito, antes de tomar como verdade, não importa quais sejam suas crenças ou motivações.


luta pessoal

Pensei muito comigo mesma e decidi que a melhor maneira de dar as boas vindas é uma breve explicação sobre o blog.

Resolvi criá-lo como parte da minha luta pessoal por um mundo mais racional, secularista e humanista. Essa luta parte de mim, dos meus diálogos internos e percepções do meu próprio “eu”; mas é, também, uma batalha partilhada com o resto do mundo: contra e para ele.

Pretendo depositar aqui minha visão de mundo e discussões que, espero eu, sejam relevantes para os assuntos a que me destino e defendo. São eles: filosofia, sociologia, antropologia, feminismo, humanismo, igualdade, razão, ciência e ateísmo.


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